O feminino na literatura de J.R.R. Tolkien e a ligação com a Virgem Maria
- Teones Ferreira
- 26 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Falar sobre Tolkien é sempre um assunto complicado.
Primeiro porque mexe com questões afetivas, com histórias muito amadas. E segundo porque falar sobre Tolkien não é simplesmente analisar um livro ou uma ideia, mas sim todo um legado. Porém, me arrisco à falar um pouco sobre a figura feminina na literatura tolkeniana, de forma especial sobre Galadriel.

De acordo com a narrativa cristã, a mulher é aquela que abre as portas para o pecado e, ao mesmo tempo para a salvação. Séculos e mais séculos depois do advento da queda, surge outra mulher que vence o mal exatamente pela via da maternidade: Maria se tornaria a mãe de Cristo, aquele que salvaria toda a humanidade.
John Ronald Reuel Tolkien, filólogo, acadêmico, linguista e um dos escritores britânicos mais famosos do mundo, era devoto da Virgem Maria. Por estar muito próximo da Mãe ele com certeza a conhecia e por isso, ao pensar seus personagens femininos colocou um pouco de Maria em cada um deles.
Em O Senhor dos Anéis a figura de Galadriel é geralmente associada a Maria, mesmo que Tolkien nunca tenha feito essa ligação conscientemente.
Ao observarmos o encontro de Galadriel com os membros da Sociedade do Anel, em Lothlórien, percebemos que eles vêem na elfa uma figura maternal e mística, principalmente por aquele ser um momento de dor pela perda de Gandalf, o único membro da comitiva que vinha das Terras Imortais. Eles estavam sem rumo, cansados de tanto caminharem e precisavam de um amparo. E esse encontro com Galadriel tem a simbologia do colo materno, que faz com que aquelas pequenas criaturas, cansadas e frustradas, revigorem suas forças, como se renascessem para prosseguir na jornada.
Como muitos elementos na literatura de Tolkien, Galadriel mescla-se com tradições antigas mitológicos e com a tradição cristã.
Galadriel é paradoxalmente exaltada porque está disposta a ser humilde, assim como a Virgem Maria. Se há alguma verdade na alegação posterior de Tolkien de que a figura de Galadriel foi modelada na Virgem Maria (embora ela seja claramente também modelada na figura tradicional da ‘Rainha das Fadas’, ainda que Tolkien não o diga), o paralelo é precisamente encontrado na mistura paradoxal de poder com humildade e renúncia.
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